Jornal & Revista: pensamento coletivo e indisciplina, experimentos e emergência de saberes anarquistas no Brasil (1907 - 1915)

A partir da análise de dois jornais e duas revistas anarquistas divulgadas entre os anos de 1907 a 1915, respectivamente em São Paulo e no Rio de Janeiro, trato da emergência de saberes e de experimentos libertários instaurados por trabalhadores e trabalhadoras anarquistas no Brasil. Nestes impressos existe uma dinâmica coletiva característica. Desde a concepção destes periódicos até sua elaboração, confecção e distribuição há um processo singular marcadamente grupal. O nome do jornal, as matérias publicadas, as discussões estampadas em suas colunas e os acontecimentos anteriores e posteriores à publicação das matérias, indicam de maneira contundente a existência de uma perspectiva autogestionária, processual, situada e circunstancializada animando as pessoalidades associadas na feitura dos jornais e revistas. O título destes periódicos são verdadeiros pseudônimos coletivos e ao mesmo tempo constituem legítimas assinaturas coletivas, possibilitando a publicação de análises da vasta questão social a partir de um ponto de vista emancipatório, libertário e libertador. O autodidatismo comumente é evocado para explicar como foi possível de trabalhadores e trabalhadoras, com nenhuma ou quase nenhuma passagem pelas escolas oficiais, terem escrito com profundidade, versatilidade e desenvoltura tratando de temas da sociedade em seu tempo. Se a noção de autodidatismo informa do aspecto individual da educação, cultura e trabalho intelectual instaurado no movimento operário anarquista, não alcança as particularidades dos dinamismos associacionistas na elaboração de um pensamento coletivo. Procuro detalhar estas características, contribuições e singularidades de um pensamento social anarquista através do estudo das revistas cariocas Floreal (1907) e A Vida (1914 – 1915) e dos jornais paulistanos Germinal! (1913) e A Rebelião (1914).