O som do silêncio e o silêncio do som: pela construção de uma sociologia sonora

Há aproximadamente duas décadas, caiu em minhas mãos um livro tipo calhamaço, de certo sociólogo francês, cuja obra era desconhecida de quase todos os meus colegas docentes e pesquisadores. A leitura da obra me foi cara, dura, difícil mesmo, pois a linguagem truncada do autor criou empecilhos aos avanços no campo das reflexões propostas. As dificuldades me obrigaram a um ritmo de leitura diferente do habitual. À medida que avançava pelos capítulos, eu percebia que o estilo de escrita labiríntico do autor servia para ajudar leitores a melhor perceber a densidade das perspectivas que o ensaísta do velho continente propunha ao longo das quase seiscentas páginas de sua obra. Não que tal estilo literário fosse consciente, proposital por parte do autor, creio que, de fato, é uma marca, uma possibilidade, um limite que não permite que a escrita ganhe fluidez, suavidade e poesia. Tal estilo de escrita lembra outro pensador francês de envergadura e este, sim, bem mais conhecido e celebrado nos dias atuais: Pierre Bourdieu. Tal como este último, a obra do autor cuja primeira leitura de minha parte ocorreu há quase vinte anos tem pouca fluidez em seu texto, mas isso não impede que sua densidade teórica ganhe relevo.