Sobrevivendo à pandemia no semiárido paraibano: efeitos sociais do coronavírus em moradores de três municípios do Cariri Ocidental

Quando os primeiros casos de contaminação por COVID-19 foram registrados no Brasil, entre fevereiro e março de 2020, a previsão de vários pesquisadores era de que a crise sanitária iria agravar a desigualdade social no país (TEMAS, 2020). Ao longo dos meses seguintes, esse receio se concretizou. Não apenas as mortes registradas por COVID-19 no Brasil são comprovadamente maiores em populações pobres, negras e periféricas, como também foram essas as populações mais afetadas em suas condições socioeconômicas pela crise sanitária e pelas políticas de enfrentamento da pandemia (CARVALHO et al., 2021; PERES et al., 2021).Ao longo dos anos de 2020 e 2021, o coronavírus afetou principalmente as pessoas com condições econômicas precárias, que precisavam sair de casa para trabalhar; que tiveram pouco acesso a redes de saúde, de esgoto e água tratável; que não tiveram a possibilidade de seguir as recomendações sanitárias de controle da pandemia porque não tinham como se manter isoladas. Isso nos mostra que, no Brasil, além dos “grupos de risco” do COVID-19 (idosos, gestantes e portadores de doenças crônicas), algumas pessoas estão mais vulneráveis aos efeitos da pandemia que outras. Essavulnerabilidade se origina de dinâmicas sociais marcadas pela desigualdade. Quesada, Hart e Bourgois (2011) referem que, no campo da saúde pública, existe a “vulnerabilidade estrutural”, na qual determinados indivíduos ou grupos estão mais propícios ao risco e à doença, tanto por causa da exclusão social em que vivem, como pela discriminação – racial, de classe, de gênero e étnica – que provocasofrimento físico e emocional nessas pessoas. Diante dessas problematizações, nos voltamos para o Cariri Ocidental, uma microrregião de clima semiárido do Estado da Paraíba.