A GEOGRAFIA ESCOLAR EM DISPUTA: POLÍTICAS, TEORIAS E HISTÓRIAS CURRICULARES

Autores

Paulo Sérgio Cunha Farias
Universidade Federal de Campina Grande, UFCG
Luiz Gustavo Bizerra de Lima Morais
UFCG
Ângela Massumi Katuta
UFPR Litoral
Carlos Augusto de Medeiros
USP
Palavras-chave: Geografia, Ensino e Currículo

Sinopse

A presente coletânea é fruto de palestras e atividades de ensino realizadas na disciplina Epistemologia do Ensino de Geografia, bem como de pesquisas feitas e orientadas por docentes do Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Ensino de Geografia (PROFGEO), da Unidade Acadêmica de Geografia (UAG) da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), Campus de Campina Grande-PB. Conta, também, com a colaboração de pesquisadores (as) da área de ensino dessa disciplina vinculados (as) a outros programas de pós-graduação de outras instituições de ensino superior públicas, a exemplo da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da UFPA (Universidade Federal do Pará), além da contribuição de pesquisadores (as) do campo da Educação.

A temática central que perpassa as análises e reflexões que compõem a presente coletânea é a do currículo de Geografia: as suas políticas, teorias e histórias. Contudo, apesar de tratar da história social mais ampla desse campo do saber, o enfoque privilegiado na maioria dos textos são as reformas educacionais recentes e suas proposituras curriculares para a Geografia Escolar.

A maioria dos textos escritos leva em consideração que o conjunto de reformas educacionais recentes expressa o realinhamento da educação à economia na fase atual de acumulação capitalista flexível e do neoliberalismo. Nessa via, a produção do conhecimento e, por conseguinte, a educação e a escola ganham centralidade e precisam ser controladas porque passam a ser campo de investimento e de lucros, de formação de empreendedores e trabalhadores precarizados e subalternizados, e de propagação de ideologias que realçam a meritocracia, a competição e a individualização.

Para isso, o reajuste da educação aos interesses capitalistas requer o controle dos sistemas de ensino e isso se dá por duas vias. A primeira consiste no controle do ensino, por meio da padronização curricular e das avaliações em larga escala. A segunda reside no controle/precarização do trabalho docente, a fim de ajustá-lo às demandas impostas pelo engessamento dos currículos, transformados

em matrizes disciplinares destinadas à produção do sujeito subalternizado e alienado.

Nessa tessitura, o enfoque teórico do currículo oficial e prescrito se acosta nos princípios da filosofia da prática, em detrimento da filosofia da práxis. Assim, a educação incorpora tendências teóricas de outros campos do saber, a exemplo do conceito de capital humano, formulado pela Economia, ou perspectivas epistêmicas educacionais coerentes com o modelo de sociedade de mercado e com o regime de acumulação flexível na atual conjuntura neoliberal, a exemplo do tecnicismo, do escolanovismo e do construtivismo piagetiano que fundamentam parte significativa dos defensores das pedagogias ativas.

Para assegurar o modelo de educação que os reformadores empresariais almejam, as reformas empreendidas foram e são comandadas por fundações e institutos privados que, juntamente com as mídias e os governos instituídos, principalmente, após o golpe parlamentar, jurídico e midiático de 2016, intensificaram o empresariamento e a mercadorização da educação, cujos princípios determinaram e, ao mesmo tempo, foram determinantes na elaboração e definição da matriz curricular pragmática (BNCC – Base Nacional Comum Curricular); na instauração da reforma do Ensino Médio, que reduz a carga horária e/ou elimina a Geografia nessa etapa da educação; na ingerência empresarial voltada ao fazer pedagógico dos (das) docentes; na produção dos materiais e serviços educacionais, a exemplo dos livros didáticos, das plataformas, sites e outros produtos pedagógicos; assim como nas parcerias público-privadas da gestão dos sistemas e escolas públicas em todo país, muitas das quais corroboradas pela UNDIME (União dos Dirigentes Municipais de Educação) e pelo CONSED (Conselho Nacional de Secretários de Educação).

Contudo, alinhados à epistemologia da práxis, aos fundamentos das Pedagogias Histórico-Critica e Libertadora, aos princípios da Geografia Crítica, da Cartografia Social, os autores e as autoras dos textos desta coletânea, filiados (as) à concepção de educação voltada à autonomia, omnilateral e emancipatória, ao tecerem os seus estudos, questionam criticamente as reformas educacionais e o currículo oficial da Geografia imposto. Ao questionarem esses elementos, fortalecem o conjunto de pesquisadores que, com as suas pesquisas e atividades de ensino, colocam-se na contestação e na disputa curricular, apontando

para a necessidade de currículos que, produzidos pelos educadores e educadoras dos Estados e Municípios, contribuam para a leitura consciente, sistemática e crítica do espaço geográfico concreto e representado como condição para a construção da consciência política transformadora da realidade dos filhos e das filhas de trabalhadores e trabalhadoras que estudam nas redes públicas de ensino do Brasil e da Paraíba.

Assim, os textos que compõem a coletânea  apresentam a análise e fazem a denúncia das correlações entre as políticas curriculares e o neoliberalismo; a história social do currículo oficial da Geografia Escolar e as hegemonias e conta-hegemonias que o disputam; os entrelaces entre a Geografia Acadêmica, as tendências pedagógicas e a Geografia Escolar nas suas determinações históricas; as matrizes curriculares oficiais dessa disciplina escolar, ditadas pelo Estado, como a BNCC; a comparação entre esse documento curricular e o PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a fim de verificar as mudanças e permanências em suas matrizes teóricas; a ausência da inclusão das diferenças e da educação geográfica do campo no documento curricular nacional; os desdobramentos da Base na elaboração do Documento Curricular da Paraíba para a disciplina geográfica nos anos iniciais do Ensino Fundamental; a concepção piagetiana/kantiana da Cartografia Escolar do documento nacional normatizador das composições curriculares de Estados e Municípios, apontando para a Cartografia Social dos sujeitos sociais como alternativa para uma educação geográfica emancipatória; as modalidades e o fatiamento do Ensino Médio na Paraíba; a precarização e desprofissionalização da função docente do geógrafo (a) educador (a) com o “Novo Ensino Médio”; a diluição do saber geográfico na grande área da Ciências Humanas ou Sociais Aplicadas nessa etapa da educação.

Ao colocar esses temas em evidência, os estudos aqui apresentados denunciam os prejuízos dessas reformas para uma educação que seja verdadeiramente democrática, humanizadora, coletivista e emancipatória. Na contramão dessas reformas, defendem uma Geografia Escolar calcada na criticidade, na politização e na emancipação dos sujeitos que vivem do trabalho e a sua formação omnilateral.

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Publicado em

5 de novembro de 2024

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